03 de junho de 2016 - por Luiz Humberto Monteiro Pereira jogoscariocas@gmail.com
Aos 22 anos, a arqueira carioca Anne
Marcelle treina forte para chegar preparada às Olimpíadas do Rio
O objetivo é, com um arco recurvo, atirar uma flecha em um alvo
de 1,22 m, distante 70 metros – dois metros a mais que a largura, de lateral a
lateral, de um campo de futebol “padrão Fifa”. Para arqueiros de
nível olímpico, se sair bem seria acertar a flecha no círculo amarelo central
do alvo, que tem apenas 12,2 cm de diâmetro. De preferência, no círculo de 6,1
cm de diâmetro que há dentro dele – algo parecido com o fundo de um copo. Não é
tarefa fácil e a carioca Anne Marcelle Gomes dos Santos sabe bem disso. Aos 22
anos, ela conquistou a sua vaga na competição de tiro com arco nas Olimpíadas
do Rio de Janeiro pelo ranking olímpico – é a brasileira melhor posicionada. “Não
esperava ter essa chance de chegar tão longe e disputar as Olimpíadas”,
admite a atleta da equipe Arqueiros de Íris,
de Maricá, no Litoral Norte Fluminense, que é estudante de Educação Física.
Depois de diversos títulos como juvenil e cadete, ela começou a se destacar na
categoria adulta a partir de 2014, quando foi campeã brasileira e sul-americana
por equipes e segundo lugar na brasileiro individual. Sua última medalha de
ouro foi em no Torneio Internacional na Guatemala, em março desse ano, que
reuniu os melhores arqueiros latino-americanos. Lá, ela venceu a prova de
duplas mistas – que não é disputada nas Olimpíadas –, em parceria com o também
carioca Marcus D'Almeida, seu colega da equipe Arqueiros de Íris e na seleção
brasileira.
Jogos Cariocas - Como você se aproximou do tiro com arco?
Anne Marcelle – Tenho 7 anos de arco – atiro desde 2009.
Morava em Maricá e meu irmão começou a praticar no Projeto Escola do centro de
treinamento da base da Confederação Brasileira de Tiro com Arco. Eu tinha 15
anos e fazia handebol. Um dia, quando fui chamar ele para ir pra casa, vi o
pessoal treinando e me apaixonei. Foi amor à primeira vista. A sensação da
flecha saindo do arco é algo inexplicável. Logo nas minhas primeiras aulas de
arco, a técnica Dirma Miranda já falava que eu era um talento. Daí vieram as
primeiras conquistas. Minha primeira viagem internacional foi em 2011, para a
Polônia, onde disputei o mundial juvenil. Naquele mesmo ano, fui medalha de
ouro no sul-americano, no Chile, e ainda ganhei o Prêmio Brasil Olímpico como
melhor atleta brasileira do tiro com arco.
Jogos Cariocas - Quais são seus pontos fortes e quais
fundamentos precisa aprimorar?
Anne Marcelle – Sou muito forte e dedicada. Preciso
aprender a ser mais calma e ter tranquilidade na hora da competição. Tenho de
manter o foco na prova.
Jogos Cariocas - Como é a sua rotina diária de treinos?
Anne Marcelle – Desde janeiro, meus treinamentos são
realizados na Escola do Exército, na Urca, na Zona Sul do Rio de Janeiro.
Treino 10 horas por dia. Além dos treinos de tiro com arco, também tenho seções
de musculação, fisioterapia e massagista. A gente sempre corre e faz bicicleta
para aguentar ficar em pé o dia inteiro, como ocorre durante as competições.
Também fazemos exercícios psicológicos específicos para aumentar a
concentração.
Jogos Cariocas - Como acha que estão as chances do tiro com
arco do Brasil nas Olimpíadas? Sabe quem serão seu principais adversários?
Anne Marcelle – Creio que temos chances de medalhas nas
disputas por equipe, tanto na masculina quanto na feminina. No Rio de Janeiro,
a “mulher a ser batida” será a sul-coreana Ki Bo Bae, que é a
atual campeã olímpica no tiro com arco.
Jogos Cariocas - Já sonhou com os Jogos Rio 2016? O que
imagina encontrar lá?
Anne Marcelle – Eu nunca imaginei que um dia iria
participar das Olimpíadas. Sei que vou encontrar grandes desafios e encarar
adversários muito fortes. O fato dos Jogos de 2016 serem no Brasil ajudará
bastante, pois o povo brasileiro sabe torcer e apoiar os seus atletas Espero que as Olimpíadas do Rio de Janeiro
ajudem também na união de todos os povos e nações.
Jogos Cariocas - O que diria para um jovem que quisesse se
iniciar no tiro com arco hoje?
Anne Marcelle – A maioria dos jovens que entram no tiro
com arco levam na brincadeira e não se dedicam seriamente. A caminhada é longa
e surgem obstáculos que podem fazê-lo desistir. Mas, no final, quem não desiste
percebe que a luta e o sofrimento valeram a pena. Gostaria de ter apoio de
patrocinadores para desenvolver um projeto que incentivasse os jovens
brasileiros a praticar o tiro com arco.