09 de setembro de 2016 - por Luiz Humberto Monteiro Pereira jogoscariocas@gmail.com
Na paracanoagem, o carioca Caio Ribeiro resgata a paixão pelos esportes e estreia nas Paraolimpíadas no Rio
Desde a infância, o carioca Caio Ribeiro se revelou um esportista nato. Por anos, praticou surfe, jiu-jitsu, ciclismo... "Se tem adrenalina, estou dentro!", sintetiza. Mas, em julho de 2011, sofreu um acidente e teve de amputar a perna esquerda. E foi através do esporte – no caso, da paracanoagem – que recuperou a alegria de viver. “Como o acidente era recente, remar foi uma forma de fugir da depressão que me atormentava”, explica o canoísta, que em 2013, na Alemanha, tornou-se campeão mundial de paracanoagem. E ainda repetiu o feito em 2015, na Itália. Agora, aos 30 anos, irá participar pela primeira vez das Paraolimpíadas – e na cidade onde nasceu e mora. “Estou em casa! Não vou ter jet lag e nem ter que comer aquelas comidas diferentes...”, diverte-se o fanático torcedor flamenguista, que faz parte do Time Nissan e do Time Rio Paralímpico, da prefeitura carioca. Caio vai disputar as eliminatórias da categoria VL3 masculino da paracanoagem olímpica no dia 14 de setembro, na Lagoa Rodrigo de Freitas, e as finais acontecerão no dia 15.
Jogos Cariocas - Como você se aproximou da paracanoagem?
Caio Ribeiro – Fiquei sabendo da existência da paracanoagem através de uns colegas que faziam fisioterapia comigo em 2011, logo após meu acidente. No início, jamais pensei que iria ser um atleta de paracanoagem. Iniciei apenas para esquecer do que estava acontecendo comigo. Foi uma forma de fugir da depressão.
Jogos Cariocas – Além da paracanoagem, ainda pratica outros esportes?
Caio Ribeiro – Sim, adoro esportes! Minha vida é o esporte. Me dedico 100% ao meu trabalho que hoje é o caiaque. Minha rotina hoje é acordar, tomar café da manhã, treino, lanche, treino, almoço, treino, jantar, repouso, lanche, dormir. Mas, a qualquer momento que tenho livre, estou fazendo exercícios, pedalando, surfando ou lutando jiu-jítsu...
Jogos Cariocas - Qual é a coisa legal de praticar a paracanoagem? Há alguma parte chata?
Caio Ribeiro – É legal porque tem água. Amo água! Flutuar, de alguma forma, é se sentir livre e no infinito. Me vejo longe da terra e dos seres humanos, solto em alto mar. A única coisa chata é que, hoje em dia, tenho que ficar preso numa raia de 200 metros...
Jogos Cariocas - Você recentemente mudou de categoria. Por quê?
Caio Ribeiro – Tive que mudar para o caiaque porque há um ano tiraram a canoa dos Jogos Paraolímpicos e deixaram só o caiaque. Mudanças inexplicáveis, feitas pela federação internacional. São três categorias no caiaque: KL1, KL2 e KL3. Eu sou categoria KL3. As categorias são divididas assim: KL3 quem usa braço, tronco e perna. KL2, braço e tronco, e KL1, somente braços.
Jogos Cariocas - Como estão suas chances nos Jogos Rio 2016?
Caio Ribeiro – Estou triste porque esse ano foi ruim pra mim. Fiquei em quarto lugar no ranking caiaque e na canoa e queria ter ficado pelo menos entre os três primeiros. Os três que ganharam de mim têm duas pernas, mas vim para vencer. Meus principais adversários são da Alemanha, Ucrânia e Rússia. Toda dia sonho com os Jogos. Tantas coisas ruins já aconteceram comigo nos últimos cinco anos... Por isso, quero muito vencer no Rio!
Jogos Cariocas - Como lida com a sua deficiência física, no seu dia a dia?
Caio Ribeiro – Sou deficiente físico há cinco anos. No dia a dia, eu até tiro onda. Faço meu melhor, porque é difícil. Não sou mais uma pessoa “normal” para a raça humana e isso dói. Mas a parada é engolir a dor e fazê-la de sobremesa, torná-la uma coisa saborosa...
Jogos Cariocas - Nos últimos Jogos, o Brasil tem conseguido mais pódios nos esportes paraolímpicos que nos olímpicos. A que atribui isso?
Caio Ribeiro – Temos conseguido mais destaque porque estamos cansados de sofrer, achamos um abrigo que é o esporte. Muitos portadores de deficiências físicas acharam uma razão para viver, competir e vencer. Então a gente se entrega a isso, é daí que tiramos a nossa felicidade. Afinal, um sorriso, um choro de trabalho bem feito, de uma conquista, vale mais do que lembrar as maldades, corrupção, desigualdades tudo que nos faz sofrer. A vida é curta, então temos que viver!