26 de agosto de 2016 - por Luiz Humberto Monteiro Pereira jogoscariocas@gmail.com
Nas Olimpíadas do Rio, Brasil bate recordes de medalhas e evolui em diversas modalidades
Ao término da última modalidade em disputa nas Olimpíadas do Rio de Janeiro – o previsível ouro para os Estados Unidos no basquete masculino –, o Brasil estava com sete medalhas de ouro, seis de prata e seis de bronze, totalizando 19 presenças em pódios. Mas contabilizar medalhas não é a única – e nem a melhor – maneira de aferir o desempenho de um país dentro de uma competição múltipla e complexa como as Olimpíadas. É óbvio que as medalhas olímpicas ajudam a dar visibilidade aos esportes, sensibilizar os patrocinadores e atrair investimentos. Mas, mesmo fora dos pódios, em modalidades onde o país nunca teve tradição, os atletas nacionais conseguiram resultados expressivos, que permitem vislumbrar uma evolução. Em mais da metade das modalidades olímpicas, os brasileiros tiveram desempenhos melhores do que em 2012. Em 13 delas, nunca tivemos resultados tão bons.
Entre os ouros conquistados pelo Brasil no Rio, alguns eram previsíveis, outros nem tanto. Os mais fáceis de prever talvez tenham sido os conquistados por duas duplas. Depois do título mundial de 2014, as velejadoras Martine Grael e Kahena Kunze confirmaram seu domínio na classe 49erFX com o ouro. No vôlei de praia, foi a vez de Alison Cerutti e Bruno Schmidt reafirmarem a condição de favoritos obtida após a conquista do Campeonato Mundial de 2015, na Holanda. As medalhas de ouro conquistadas nos esportes coletivos – do futebol masculino e do vôlei masculino – também contavam com muita expectativa. Mas ambas começaram o evento sob alguma desconfiança – nas duas modalidades, as equipes femininas iniciaram a competição mais bem cotadas que as masculinas, mas acabaram eliminadas antes das finais.
Já a peso leve Rafaela Silva também não era a atleta mais cotada do judô brasileiro – posição que cabia aos medalhistas olímpicos Sarah Menezes e Felipe Kitadai, que caíram antes das semifinais. Aos 24 anos, a carioca medalhista de ouro nos Jogos Rio-2016 se posiciona como o grande nome do judô brasileiro para os próximos ciclos olímpicos. Inesperados mesmo foram os ouros do atleta paulista Tiago Braz no salto com vara e do boxeador baiano Robson Conceição. Tiago foi o único pódio do atletismo brasileiro e, aos 22 anos, já se firma como um dos grandes nomes mundiais da modalidade. Já Robson, de 33 anos, encerra sua trajetória nas Olimpíadas – esteve em Pequim-2008 e Londres-2012 – com um inédito ouro para o boxe brasileiro, que certamente irá ajudar seus planos de se tornar boxeador profissional.
Entre os ganhadores brasileiros das medalhas de prata, alguns atletas chegaram à competição cotados como favoritos. Entre eles está Felipe Wu, da pistola de ar 10 metros do tiro esportivo. O paulistano de 24 anos chegou à competição como o primeiro no ranking mundial na pistola de ar 10 metros, mas foi superado na última bala pelo vietnamita Xuan Vinh Hoang. No vôlei de praia, as campeãs mundias Agatha e Bárbara também estavam no topo do ranking, mas perderam a final para as alemã Ludwig e Walkenhorst. Na ginástica artística, o campeão olímpico das argolas nos Jogos de Londres, o paulista Arthur Zanetti, foi superado na final carioca pelo grego Eleftherios Petrounias, que fez uma apresentação perfeita.
As outras medalhas de prata vieram de boas surpresas. Depois das quedas nos Jogos de Pequim e de Londres, o ginasta Diego Hypólito conquistou a prata no solo, superado apenas pelo britânico Max Whitlock. Na canoagem de velocidade, o estreante baiano Isaquias Queiroz também chegou ao evento com boas expectativas e acabou conquistando medalhas de pratas no C1-1000m e no C2-1000m – essa última junto com o também baiano Erlon Souza – e uma de bronze, no C200.
Das medalhas de bronze, além da conquistada pelo multimedalhista Isaquias Queiroz na prova individual de 200 metros, dois judocas repetiram no Rio os terceiros lugares obtidos nos Jogos de Londres. A gaúcha Mayra Aguiar levou seu bronze na categoria meio-pesado e o sul-matogrossense Rafael Silva, o Baby, conquistou o seu na categoria pesado, ajudando a manter o judô como a modalidade que mais conquistou medalhas na história olímpica brasileira.
Outras três medalhas de bronze vieram de forma bem mais inusitada. Na maratona aquática, muito se falava na baiana Ana Marcela Cunha, mas o terceiro lugar da prova de 10 km acabou com a paulistana Poliana Okimoto, de 33 anos, beneficiada pela desclassificação da nadadora francesa, que empurrou a competidora italiana na hora de tocar a fita de chegada. Na prova de solo da ginástica artística, o paulista Arthur Mariano Nory, de 22 anos, acabou conseguindo uma improvável “dobradinha” com a prata de Diego Hypólito. E no taekwondo, o pesado mineiro Maicon Andrade, de 23 anos, que obteve a vaga olímpica deixando para trás dois favoritos, trouxe a primeira medalha masculina brasileira da modalidade nas Olimpíadas.
Entre os esportes que não obtiveram medalhas, mas conseguiram posições inéditas para o Brasil, estão muitos atletas com bom potencial para as próximas edições dos Jogos Olímpicos. No atletismo, Caio Bonfim foi o quarto colocado na marcha atletica e Érica Sena terminou em sétimo. Darlan Romani, do arremesso de peso, e Wagner Domingos, do arremesso de martelo, chegaram às finais com chance de pódio. Na ginástica artística, Flávia Saraiva ficou em quinto lugar na trave e Rebeca Andrade foi a 11ª no individual geral feminino. No tiro com arco, esperava-se bastante do carioca Marcus D'Almeida, mas quem conseguiu a melhor posição foi sua conterrânea Anne Marcelle, de 22 anos, que obteve um nono lugar – a melhor colocação olímpica brasileira na modalidade. Na esgrima, Nathalie Moellhausen chegou às quartas de finais – outro feito inédito para o Brasil.
Mas nem tudo foram boas notícias para o esporte brasileiro nos Jogos Rio 2016. Algumas modalidades historicamente importantes para o cenário esportivo nacional tiveram desempenho frustrantes, como natação e basquete. Também esperava-se bem mais da vela, que teve de se contentar com o ouro na 49FXer. Ainda mais decepcionante foi a performance das seleções femininas de handebol, vôlei de quadra e futebol, que estrearam como favoritas, mas não chegaram às finais. Para o próximo ciclo olímpico, será hora de tentar corrigir o que deu errado. Para, talvez, seguir o exemplo dos britânicos, que nos Jogos Rio 2016 conseguiram mais medalhas que nas Olimpíadas de Londres 2012, disputadas “em casa”.