15 de outubro 2016 - por Luiz Humberto Monteiro Pereira jogoscariocas@gmail.com
Jornalismo esportivo brasileiro esconde patrocinadores do esporte e atrapalha o que deveria incentivar
No dia 7 de outubro, em Uberlândia, o carioca Rexona-Sesc – do
técnico multicampeão olímpico Bernardinho – venceu o time da casa, o
Dentil/Praia Clube, por 3 sets a 1 (25/12, 25/19, 25/27 e 25/20), e se
conquistou o bicampeonato da Supercopa de Vôlei Feminino. Mas, na grande
maioria das manchetes, a vitória foi do “Rio de Janeiro” sobre o
“Praia Clube” – que em alguns veículos virou o “Uberlândia”.
Suprimir qualquer menção aos patrocinadores dos nomes dos times ou das
competições esportivas é uma prática comum na cobertura nacional das emissoras
de televisão, rádio, internet e mídia impressa.
Nessa “cruzada
publiciária”, vale não apenas mudar os nomes patrocinados de equipes e
arenas esportivas para denominações “genéricas”, mas também
borrar logomarcas nas camisas, bonés e nas placas dos ginásios e estádios, nas
fotos e vídeos. Ou até mesmo dar cobertura apenas aos eventos esportivos que
tragam também anúncios pagos e ignorar os outros, mesmo que sejam mais
interessantes para o público. As imposições dos departamentos comerciais,
muitas vezes, acabam atrapalhando a imprensa esportiva brasileira na tarefa
prioritária de comunicar.
Quando o nome
do patrocinador é incorporado ao nome da equipe ou da arena, não existe outra
maneira mais eficiente de citá-los. Ao ver a equipe que conhece por um nome ser
tratada de uma forma “inventada” apenas para suprimir a menção ao
patrocinador, o público acaba sem entender direito sobre o que o jornalista
está falando. Ao abdicar da precisão da informação em nome de um mercantilismo
estéril, que não lhe rende nada, o jornalismo esportivo leva uma tremenda “bola
nas costas”.
Além de gerar
ruídos na comunicação ao abrir mão da precisão, os veículos de imprensa que
cedem a essas imposições prejudicam bastante o próprio objeto de suas
coberturas: o esporte brasileiro. Qual seria a motivação de uma empresa para
renovar o patrocínio a um atleta ou a uma equipe nacional se, quando seu
patrocinado aparece na mídia, a marca da empresa patrocinadora é sumariamente
suprimida? Por que renovar um contrato de patrocínio se o retorno de mídia é
brutalmente minimizado pelo intenso trabalho de “censura das marcas”
realizado pelos meios de comunicação? A “ocultação” das marcas na
mídia se reflete em patrocinadores mais arredios e as verbas publicitárias mais
escassas.
Um dos efeitos
colaterais disso é perverso e bastante conhecido por quem se interessa por
esporte. Trata-se do êxodo dos melhores atletas brasileiros, que partem para o
exterior em busca de reconhecimento profissional para suas atividades – e vão
justamente para países onde os patrocinadores conseguem grande exposição de
suas marcas. Ou seja, pegam uma merecida “carona” no sucesso das
competições, equipes e atletas que apoiam. Como se fosse um “efeito
dominó”, a ida dos atletas de destaque para outros países acaba gerando
um outro efeito colateral, que afeta justamente quem iniciou o processo: a
imprensa esportiva. Com os torneios nacionais esvaziados pela emigração de seus
principais talentos, cai o interesse do público pelo esporte – e,
consequentemente, pelos veículos que cobrem o assunto. Com menores audiências,
cai o interesse pelos espaços publicitários e os veículos de comunicação
especializados em esporte se atrofiam.
Se pretendem
melhorar sua performance, é hora da mídia esportiva rever seus conceitos.
Priorizar uma cobertura verdadeiramente jornalística, que valorize os fatos
importantes e não apenas os que remuneram os veículos, é o caminho mais
inteligente. Quando os responsáveis pela imprensa esportiva perceberem que os
patrocinadores são um componente fundamental do esporte de alto nível, o Brasil
terá começado a virar o jogo. Que as Olimpíadas e Paraolimpíadas do Rio de
Janeiro, onde a intensa participação dos patrocinadores foi definitiva para o
sucesso esportivo e comercial do evento, ajude a deixar essa lição.