Miura, a força do touro gaúcho - Dias ao Volante

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Miura, a força do touro gaúcho

25 de junho de 2021 - por Daniel Dias e Gabriel Dias, com a Wikipedia
O Dias ao Volante conta mais um capítulo da “Memória das Estradas”, sempre com um clássico entre os brasileiros. Desta vez, é com uma lenda surgida em Porto Alegre, o esportivo Miúra, produzido de 1976 a 1992.
O nome é em homenagem ao famoso animal típico das touradas espanholas, o Miura, derivado de cinco linhagens históricas do touro criado na Andaluzia, sul da Espanha: Gallardo, Cabrera, Navarra, Veragua e Vistahermosa-Parladé. A inspiração do carro veio toda da cabeça de dois cidadãos gaúchos em Porto Alegre, no Rio Grande do Sul, na metade dos anos 70, Aldo Besson e, especialmente, Itelmar Gobbi, por ser o designer do esportivo projetado, desenvolvido e construído na capital do RS.
O Miura foi criado pela Besson & Gobbi SA, com base na empresa de auto peças Aldo Auto Capas. A B&G foi fundada em 1976 e encerrou suas atividades em 1992, quando da abertura do mercado nacional aos veículos importados. Focou sua produção em modelos esportivos, geralmente dotados de mecânica Volkswagen, montados sob chassi tubular e carrocerias em fibra de vidro com desenhos próprios. Foi pioneira na apresentação do sistema de Freios ABS no Brasil, em 1990. Apesar de ter fechado as portas em 1992, a empresa recebeu encomendas até 1995, quando parou de vender a picape BG Truck.
Besson morreu em 2011 e Gobbi, no ano passado. Em 2007 a marca Miura foi adquirida da massa falida da B&G pela empresa Rangel & Lima Indústria de Veículos Ltda, que a partir de então começou a trabalhar em dois novos modelos, o Miura M1 e o Miura M2, mas esses carros ainda não saíram do papel. O primeiro estava previsto para ser lançado em 2019 e o segundo, este ano.
Besson, proprietário da Aldo Auto Capas, especializada em transformar carros nos anos 60, e seu sócio, Gobbi, começaram em 1975 um projeto ambicioso: criar um carro esportivo, inspirado nos modelos Lamborghini Countach e Mazda RX5. Para o trabalho, chamaram o projetista e estudante de arquitetura Nilo Laschuk e o especialista em mecânica Mariano Brubacher. O carro foi feito em fibra de vidro e montado sobre um chassi Volkswagen, com motor de 1.600 cilindradas, refrigerado a ar. O desenho tinha a forma de cunha, faróis escamoteáveis e acabamento refinado. O Miúra foi lançado no Salão do Automóvel de São Paulo de 1975, tornando-se uma das sensações do evento. Um dos destaques do veículo era o volante com regulagem elétrica de altura, mantido em todos os modelos posteriores.
De acordo com o site Miura Clube RS, criado por admiradores do veículo, em 1980, foram vendidas seiscentas unidades, exportadas também para a América do Sul. Naquele ano, o Miura passou por algumas modificações de estilo, com a traseira perdendo a terceira porta, ganhando vidro integrado na carroceria e acesso ao motor. Ao longo dos anos, foram lançados várias versões do Miura: o Saga, o 787, o X8, o Top Sport e o X11. Em 1986, o Miura atingiu seu máximo em requinte, incorporando computador de bordo com sintetizador de voz que avisava para soltar o freio de estacionamento, lembrete de reabastecimento, de engate dos cintos de segurança e da retirada da chave da ignição. Calcula-se que foram fabricadas perto de 10.600 unidades, sendo 35% do Miura Targa, o mais vendido.
De 1950 e 1990, com o Brasil impondo restrições à importação de veículos, ter um esportivo ou um carro de luxo nos padrões europeus era praticamente impossível. Para suprir em parte essa necessidade, surgiram os nacionais apelidados de fora-de-série, como a réplica do MP Lafer e até os Puma. Fabricados com fibra de vidro, plataforma e mecânica da Volkswagen, muitos fizeram sucesso pela ousadia e pelo estilo. É o caso principalmente do Miura.
Conhecido pela frente em cunha, pelos faróis escamoteáveis, limpadores escondidos entre o capô e o para-brisa (bem inclinado), o Miura chamava a atenção pelo visual moderno e arrojado. O modelo contava com lanternas projetadas com exclusividade para acompanhar o desenho do para-choque em plástico injetado e rodas de 14 polegadas com pneus 185/70. Outro ponto alto era o impressionante acabamento interno. Revestido de náilon, incluindo detalhes no painel, laterais e teto e com assoalho acarpetado, poucos carros da época acompanhavam esses padrões. Os bancos eram anatômicos e confortáveis, com desenho retangular e apoios de cabeça reguláveis, também em náilon. O quadro de instrumentos tradicional era acompanhado de outro módulo, na posição central do painel, com amperímetro, marcador dos níveis de combustível, termômetro e marcador de pressão de óleo.
Mas o mesmo não dava para dizer quanto ao desempenho. O Miura começou sua trajetótia equipado com o motor 1.6 AR, associado ao câmbio mecânico de 4 marchas, com aceleração de 0 a 100 km/h feita em mais de 23 segundos e máxima de apenas 135 km/h. O Sport II, em 1981, recebeu o motor 1.6 refrigerado a água do Passat TS. Então com 88 cavalos a 5.800 rpm e torque de 13,3 kgfm, o Miura Sport chegava aos 180 km/h e acelerava até 100 km/h em 13 segundos. Tinha na lista de opcionais rádio com toca-fitas, vidros elétricos e ar-condicionado.
Versões do Miura
- Modelos de capotas com partes removíveis: Targa, de 1982, conversível (Spider), de 1983).
- Modelo tecnológico: Saga, de 1984.
- Modelos esportivos: Top Sport, de 1089, e X11, de 1990.
O inesquecível Saga
Com teto solar, bancos de couro, ar-condicionado e trio elétrico de série, o Saga esbanjava luxuosidade e estilo. Mas o que mais chamava atenção era a tecnologia embarcada, à frente do seu tempo e impressionante até mesmo para os padrões de hoje. Além da regulagem elétrica da altura do volante, o Miura Saga tinha abertura da portas por controle remoto, sistema de aviso por voz sobre necessidade de abastecimento e uso do cinto de segurança, sensor crepuscular; sistema de mídia com TV de 5 polegadas e minigeladeira instalada na lateral do banco traseiro. O modelo custava o equivalente a R$ 200 mil pelo dinheiro atual.

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