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No embalo do som


08 de abril de 2016 - por Luiz Humberto Monteiro Pereira  jogoscariocas@gmail.com
 
 
Jeferson Gonçalves, o Jefinho, é um dos destaques da seleção brasileira de futebol de 5,
que tenta o tetracampeonato nas Paraolimpíadas do Rio
 
Antes do jogo, os alto-falantes pedem silêncio nas arquibancadas. Só quando os torcedores se aquietam é que o juiz apita o início das partidas de futebol de 5, uma adaptação do futebol de salão para deficientes visuais. É pela audição que toda a movimentação dos jogadores é orientada. Dentro de quadra, o som do guizo que fica na bola indica o andamento do jogo, assim como as vozes dos treinadores e dos goleiros – que enxergam normalmente. O público só pode se manifestar na hora de comemorar os gols. E ouvir esse som vindo das arquibancadas é a grande motivação de Jeferson Gonçalves, o Jefinho, um dos destaques da seleção brasileira de futebol de 5. Ele nasceu com glaucoma, que foi identificada logo com três meses de idade. “Durante a infância, fui submetido a várias intervenções médicas, para minimizar a perda da visão, mas não teve muito o que fazer. Com de 7 anos de idade eu perdi a visão totalmente”, explica o ala direita de 26 anos, baiano de Candeias, que começou a praticar o esporte aos 11 anos.
Campeão de todas as Paraolimpíadas desde que o esporte passou a fazer parte do evento – em Atenas-2004 –, o futebol de 5 do Brasil é forte candidato à conquista do tetracampeonato nas Paraolimpíadas do Rio de Janeiro, em setembro. “A experiência que o grupo tem faz com que esse favoritismo não influencie na hora dos jogos. Sabemos que o resultado é conquistado dentro de quadra e por isso estamos trabalhando muito para que a gente possa alcançar os nossos objetivos”, avalia o camisa 7 da seleção. Com sua velocidade, dribles e controle de bola impressionantes, Jefinho foi fundamental nos títulos paraolímpicos em Pequim-2008 e Londres 2012, além da conquista das medalhas de ouro no Parapan-americanos de 2011 e 2015. Em 2010, foi eleito o melhor jogador do mundo na modalidade.

Jogos Cariocas - Como se aproximou do futebol de 5?
Jefinho – Sempre tive muita vontade de me tornar um jogador. Não pensei que fosse possível até saber que deficientes são capazes de praticar um esporte de alto rendimento. Eu conheci o futebol de 5 ao chegar no ICB – Instituto de Cegos da Bahia –, onde comecei a estudar. Com 11 anos, fui integrado ao time e passei a treinar pra valer, e com 14 anos, joguei a minha primeira competição. Desde o início, a minha principal característica é a velocidade.

Jogos Cariocas - Como o futebol de 5 influi na sua vida?
Jefinho – Graças ao futebol de 5, me tornei uma pessoa muito tranquila, dentro e fora de quadra. Com o esporte, aprendi muitas lições, por exemplo, respeitar as pessoas, saber ganhar e perder e muito mais. Com toda certeza, o futebol ajudou muito a me tornar uma pessoa melhor. Hoje me dedico totalmente à carreira. Treino todos os dias, de segunda a sábado, nos dois turnos. Treinos físicos, aeróbicos e com bola durante toda a semana. Além dos treinos, tenho uma alimentação balanceada, de atleta, seguindo as recomendações da nutricionista da seleção. É foco total, para chegar nas Paraolimpíadas do Rio 100%!

Jogos Cariocas - Nas Paraolimpíadas do Rio, quem serão os principais adversários?
Jefinho – Houve uma evolução grande de várias seleções nos últimos anos. Mas os nossos principais adversários com certeza são China e Argentina. A China porque tem jogadores muito bons e rápidos, jogar contra eles é sempre difícil. Contra a Argentina, além de ser uma ótima seleção, entra em campo a rivalidade, que é muito grande.

Jogos Cariocas - Já sonhou com os Jogos Rio 2016?
Jefinho – Rio 2016 será muito especial, diferente de tudo que eu já vivi até hoje. Temos poucas oportunidades de jogar em casa, com o apoio da nossa torcida. Com certeza será uma experiência única. Somos uma seleção muito experiente, então acredito que o fato de jogar em casa vai nos ajudar bastante. É sempre bom jogar contando com o apoio da torcida.

Jogos Cariocas - O que diria para um deficiente visual que queira começar no futebol de 5 hoje?
Jefinho – O início não é fácil. Temos que nos adaptar a várias situações e perder certos medos. Porém, não temos que deixar que essas dificuldades impeçam que a gente corra atrás e realize nossos sonhos. A vida não é fácil para ninguém, mas Deus nos dá, todos os dias, uma nova chance de nos superar e vencer todos os obstáculos.

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