07 de julho 2017 - por Luiz Humberto Monteiro Pereira humberto@esportedefato.com.br
Depois da contusão nos Jogos do Rio, o velocista paraolímpico Lucas Prado quer voltar aos pódios em Tóquio 2020
Quando tinha 17 anos, o mato-grossense Lucas Prado era estagiário de uma empresa terceirizada que prestava serviços para uma agência do Banco do Brasil em Rondonópolis, no Mato Grosso. Foi quando um acontecimento mudou o rumo de sua vida. “Logo no começo do expediente, eu estava diante do computador e comecei a não ver mais nada. Uma amiga me levou ao médico e foi constatado o descolamento das duas retinas”, relembra Lucas, que sofreu um processo inflamatório ocular chamado coriorretinite. Passou por seis cirurgias e, apesar dos esforços, perdeu totalmente a visão. Viveu momentos de revolta e quase desistiu de viver. Preocupado com ele, um amigo levou Lucas para conhecer o futebol de 5 e o goalbol, esportes coletivos para deficientes visuais, mas ele não conseguiu se adaptar. “Um dia, soube que a seleção brasileira paraolímpica precisava de um atleta na modalidade de revezamento. Foi assim que saí do golbol e do futebol e comecei minha trajetória no atletismo”, explica o velocista.
E foi uma trajetória e tanto. Em 2007, no Parapan do Rio de Janeiro, conquistou três medalhas de ouro. E, nas Paraolimpíadas de Pequim, em 2008, conquistou a sonhada “trinca de ouro”, nos 100 m, 200 m e 400 m – tornou-se o velocista deficiente visual mais rápido do mundo. Em 2011, foi ouro nos 100 m e nos 200 m no Parapan de Guadalajara, Em 2012, nas Paraolimpíadas de Londres, levou duas medalhas de prata, apesar de fraturar o pé. Um ano depois, no Mundial de Lyon, levou as medalha de ouro nos 100 m e nos 200 m. No Parapan de Toronto, em 2015, ganhou mais um ouro no revezamento 4 x 100 m e uma medalha de prata nos 100 m. Nos Jogos do Rio, em 2016, uma contusão o tirou da competição logo nas eliminatórias. “Na verdade, o problema foi anterior. Mas, em 2020, estarei nas Paraolimpíadas de Tóquio”, avisa o atleta de 31 anos, que mora em Joinville, em Santa Catarina, com a mulher e minha filha Nataly, que nasceu em março. “É minha maior medalha”, comemora.
Esporte de Fato - Você estava cotado para disputar o ouro nos Jogos do Rio, mas ficou de fora nas eliminatórias. Como foi isso?
Lucas Prado – Na verdade, o problema foi anterior aos Jogos Rio 2016. Em 2015, tive perda de um músculo que se rompeu. Mesmo com o treinamento intenso que tenho realizado, não estou atingindo a performance ideal. As constantes competições também colaboram para um desgaste maior, sem que eu tenha tempo de melhorar 100%. Mas a lesão que sofri durante as Paraolimpíadas do Rio foi recuperada. Em abril desse ano, senti o músculo adutor da perna direita ao correr os 200 metros no Open Brasil Loterias Caixa de Atletismo. Foi uma lesão de grau 1, que não é a mais grave.
Esporte de Fato - Quais são suas possibilidades para os Jogos Tóquio 2020?
Lucas Prado – Tenho certeza de que vou dar a volta por cima e, em 2020, estarei em Tóquio. Tenho muito potencial e sou muito dedicado, tanto que às vezes exagero e com isso me exponho mais a lesões. Tenho certeza de que quando estiver com as condições de treino ideais, o rendimento será outro. Hoje preciso me dividir entre o treinamento na cidade de São Caetano e o Centro de Treinamento, em São Paulo. No Centro de Treinamento, as condições são bem melhores e espero que fiquem ideais com as mudanças ocorridas no CPB.
Esporte de Fato - Quais são as próximas competições que irá disputar?
Lucas Prado – Esse ano, corri no Open Brasil Loterias Caixa de Atletismo, em São Paulo, e venci os 100 metros. Nos 200 m, senti o músculo lesionado e não deu para competir até o final. O meu foco agora é no Circuito Loterias Caixa, onde preciso atingir o índice para conquistar uma vaga no Mundial de Londres, em julho. Essa competição será o grande desafio desse ano.
Esporte de Fato - Após os Jogos do Rio, muitos atletas brasileiros encontraram dificuldades em renovar contratos com seus patrocinadores. Como você enfrenta essa questão?
Lucas Prado – Infelizmente eu perdi o patrocínio da Caixa e estou tentando renovar com a Unimed, mas está muito difícil. Nunca fui entusiasta da ideia de o Brasil realizar os Jogos Olímpicos aqui. Não houve planejamento para isso. Toda a estratégia foi feita para antes dos Jogos, não nos preparamos para o depois. Após as Olimpíadas e Paraolimpíadas do Rio, muitos atletas ficaram sem patrocínio e sem condições de dar continuidade aos seus treinamentos da maneira como precisam ser feitos. Dessa forma, será muito complicado manter a performance que a torcida brasileira espera de todos nós.
Esporte de Fato - Você acaba de se tornar pai de uma menina. Como é a experiência?
Lucas Prado – É uma sensação maravilhosa. Lamento só poder estar com a Nataly e com a minha esposa nos finais de semana, já que durante os outros dias preciso treinar em São Paulo. Mas, quando volto para casa, em Joinville, recebo a recompensa que elas me dão.