20 de janeiro 2017 - por Luiz Humberto Monteiro Pereira humberto@esportedefato.com.br
Surfe nas Olimpíadas de 2020 e projeto social no litoral paulista empolgam o surfista Gabriel Medina
Na vida do paulista Gabriel Medina, tudo aconteceu muito rápido. Começou a surfar aos 9 anos e aos 13 já disputava provas no circuito profissional. Aos 15 anos, fechou um contrato com a empresa australiana de equipamentos para surf Rip Curl e profissionalizou-se. Ainda em 2009, venceu a pela primeira vez uma etapa do mundial profissional. Ingressou na elite do surfe mundial em 2011, com apenas 17 anos. Naquele ano, venceu as etapas da França e dos Estados Unidos do ASP World Tour e foi o primeiro brasileiro a ganhar uma etapa da competição australiana Backside – Gold Coast Australia. Além das vitórias, ganhou repercussão por completar em um treino uma manobra designada “backflip”, uma espécie de salto mortal de costas. Em 2014, aos 20 anos, tornou-se o primeiro brasileiro campeão mundial da ASP World Tour. Na etapa final na praia de Pipeline, no Havaí, deixou para trás o australiano Mick Fanning e o norte-americano Kelly Slater, onze vezes campeão mundial. Em 2016, repetiu o backflip no Oi Rio Pro, em maio – foi o primeiro surfista a realizá-la em uma competição oficial. Logo depois, soube da confirmação do esporte como categoria olímpica nos Jogos de Tóquio, em 2020. “Quero estar lá e batalhar pela medalha de ouro para o Brasil", comemora Medina.
Além do sonho olímpico, o surfista anda empolgado com o Instituto Gabriel Medina, projeto social que criou com a família na praia de Maresias, na cidade paulista de São Sebastião, onde nasceu, mora e treina até hoje. “Vamos oferecer a crianças e jovens a mesma estrutura que tenho hoje para treinar, de se preparar para o futuro”, vibra o paulista de 22 anos – fará 23 no dia 22 de dezembro. Além da Rip Curl, Medina também é patrocinado atualmente pela Oi, Guaraná Antarctica, Coppertone, Samsung, Mitsubishi, Vult Cosmética, Cabianca e FCS. “Muitos dos meus patrocinadores são de fora do surfe. Isso mostra como o esporte está crescendo e ganhando força no Brasil”, pondera Medina, que se prepara para disputar o Pipe Masters. “Bati duas vezes na trave nos dois últimos anos e meu foco é vencer. No ano que vem, a meta é buscar o bicampeonato”, avisa.
Esporte de Fato - Como a inclusão do surfe nos Jogos Tóquio 2020 influenciará o esporte?
Gabriel Medina – Essa era uma batalha do surfe, iniciada pelo Fernando Aguerre, há 20 anos. Acredito que o esporte já tinha tudo para estar nos Jogos Olímpicos, pela força que tem hoje. Temos adeptos em todo o mundo, fãs e praticantes em todos os lugares. Nas Olimpíadas, o surfe tem tudo para crescer ainda mais.
Esporte de Fato - E quais são as possibilidades do surfe brasileiro nos Jogos Tóquio 2020?
Gabriel Medina – O Brasil tem chances totais de medalha. Hoje temos competidores fortes em vários países. Até mesmo alguns que não tinham tradição, como a Itália e o próprio Japão. Então, acho que será muito forte, mas temos atletas para brigar pelo pódio. Ainda não sabemos como será o formato, mas eu quero muito esse ouro.
Esporte de Fato - Como o surfe surgiu na sua vida?
Gabriel Medina – Comecei incentivado pelo meu pai, Charles. Ele me deu uma prancha e me ensinou. No começo eu queria surfar, me divertir, mas fui participando de campeonatos, indo bem e tive todo o apoio do meu pai para seguir adiante. Desde moleque, coloquei como meta ser campeão mundial. Meu pai e minha mãe me apoiaram e iniciamos esse sonho.
Esporte de Fato - O que poderia ser feito para que o surfe se desenvolvesse como esporte no Brasil?
Gabriel Medina – O surfe já é um esporte forte no Brasil. E para continuar assim, temos de investir na base. Estou criando o meu Instituto para formar novos valores, prepara-los para o surf profissional. Temos muitos talentos que tendo apoio, seguirão firme.
Esporte de Fato - Qual é a sua proposta com a criação do Instituto Gabriel Medina?
Gabriel Medina – Esse é um sonho com a minha família. Todos estão envolvidos. Vamos oferecer a 60 crianças e jovens, dos 10 aos 16 anos, a mesma estrutura que tenho hoje para treinar. Na verdade, até mais. Eles terão treinos físicos, nas ondas, aulas de inglês, de informática... Se eu tivesse essa estrutura quando iniciei, talvez tivesse melhorado ainda mais. Já criamos o time e a sede está na fase final de construção. Inaugura em janeiro. Vai ser demais. Vamos transformar a vida de muitos jovens. Sabemos que nem todos se tornarão campeões mundiais, talvez nem surfistas profissionais, mas queremos que eles sejam boas pessoas. Vamos trabalhar isso neles e nas famílias. Construí a sede com recursos próprios e agora estamos em busca de patrocinadores para manter as atividades. Nosso projeto já foi aprovado na Lei de Incentivo ao Esporte, do Ministério do Esporte, e vamos captar recursos junto às empresas interessadas. Vou participar do Instituto, acompanhar essa molecada de perto, junto com o meu pai. Às vezes dando toques, falando da minha experiência, às vezes só estando junto, dando risadas. Quero ver tudo de perto.