21 de abril 2017 - por Luiz Humberto Monteiro Pereira humberto@esportedefato.com.br
Maior estrela brasileira na patinação artística no gelo, Isadora Williams sonha com as Olimpíadas de Inverno de PyeongChang, em 2018
Filha de pai norte-americano e mãe mineira, Isadora Marie Williams nasceu no estado norte-americano da Georgia e atualmente mora na cidade de Litlle Falls, em Nova Jersey. Começou a patinar aos 4 anos de idade. Quando tinha 12, seu treinador na época, Andrey Kryiukov, enviou um vídeo para a Confederação Brasileira de Desportos no Gelo. No ano seguinte, em 2010, ela foi convidada para representar o Brasil no Mundial de Patinação Artística Júnior, na Holanda. “De lá para cá, já ganhei cinco medalhas internacionais para o Brasil, competi nas Olimpíadas de Inverno de Sochi e agora tenho uma medalha de ouro no Sofia Trophy. E estou na luta para conseguir outra vaga olímpica”, comemora a patinadora de 21 anos e 1,56 m de altura. No dia 12 de fevereiro de 2017, ao conquistar o ouro no Sofia Trophy, na Bulgária, Isadora tornou-se a primeira brasileira a vencer uma competição de nível internacional na patinação artísitca no gelo.
Apesar de ter cidadanias brasileira e norte-americana, a opção sobre qual país deveria representar sempre foi clara para ela. “Sempre quis representar o Brasil. Isto estava dentro de mim, portanto eu nunca competi pelos Estados Unidos. Meus caminhos foram muito duros e por muitas vezes tive vontade de desistir. Eu lutei muito para chegar até aqui. Acho que isto já estava escrito nas estrelas”, emociona-se Isadora, que aguarda a carta de aceitação para entar na Universidade de Montclair, em Nova Jersey, onde pretende cursar Nutrição Esportiva, com pós-graduação em Administração Esportiva.
Esporte de Fato - Você foi a primeira patinadora artística brasileira a disputar as Olimpíadas de Inverno e a primeira a vencer um torneio internacional de patinação no gelo. Como foi a sua experiência em Sochi e a medalha de ouro em Sofia?
Isadora Williams – A experiência em Sochi foi maravilhosa. Lá eu completei 18 anos e ganhei o melhor presente de aniversário que poderia ter. Mas confesso que tive momentos de muita tensão e tristeza tambem. A falta de experiência me fez cometer erros e não fiz a apresentação que estava preparada para fazer. Mas o tempo passa e a gente amadurece. Hoje vejo de modo diferente. O meu nome vai estar para sempre na lista das melhores patinadoras do mundo em 2014, presentes nos Jogos Olímpicos de Inverno Sochi. Eu fiz história para o Brasil, que não tem tradição no esporte. Sou uma atleta olímpica. Isso é grande! A medalha de ouro no Sofia Trophy foi outro presente de aniversário. No dia 8 de fevereiro, quando eu fiz 21 anos, embarquei para a Bulgária. Estava muito bem preparada para o evento e saí daquí determinada para buscar esta medalha.
Esporte de Fato - Como é a sua rotina de treinos?
Isadora Williams – Treino de três a quatro horas por dia. Vivo em Little Falls, em Nova Jersey, e treino na pista de patinação do Floyd Hall Arena – que é dentro do campus da universidade que pretendo estudar – com os treinadores Igor Lukain e Kristen Fraser. Eles são muito rígidos e muito profissionais. Não tem moleza. É treino, foco e concentração. Se errar, faz de novo até acertar!
Esporte de Fato - Quais são suas expectativas para o Mundial de Patinação Artística no Gelo de Helsinque, que será realizado entre 29 de março e 2 de abril?
Isadora Williams – Tenho boas chances. Meus dois programas sâo bons, têm elementos fortes para uma boa pontuação. E, com a medalha de ouro em Sofia, a minha pontuação vai subir no ranking mundial. Assim, terei mais visibilidade e credibilidade com os juizes. A luta pelas vagas nas Olimpíadas de Inverno de PyeongChang, em 2018, é feroz. Vou lutar e treinar muito para conseguir a vaga olímpica pela segunda vez.
Esporte de Fato - O que a patinação artística no gelo tem de mais atraente?
Isadora Williams – A patinação é uma arte, um teatro. A coreografia conta uma história, têm a roupa que encanta e faz parte da visualização. Uma dança no gelo com uma parte teatral. Meu relacionamento com a patinação é de amor e ódio – muito ao estilo Shakespere. Quando eu faço uma boa apresentação e ganho medalhas, é puro amor. Mas, como todo esporte, tem os seus dias negros, em que nada certo. Uma lesão, uma apresentação fraca, patins novos que são uma verdadeira tortura... Daí vira puro ódio! Em 2014, quando voltei de Sochi, disse para mim mesma que nunca mais na vida pisaria no gelo novamente. Eu cheguei a odiar o esporte e não patinei por 5 meses. Mas daí o amor falou mais alto e foi dando aquela vontade voltar a patinar...
Esporte de Fato - Você tem patrocinadores? Já consegue praticar a patinação artística no gelo profissionalmente?
Isadora Williams – Não tenho patrocinadores. E não vejo seriedade nos patrocinadores. Eles querem atletas de momento. Após as Olimpiadas de Verão, hoje a maioria dos atletas já perderam os patrocínios. É muito triste. Conto com o apoio da minha confederação, a CBDG, do Comitê Olimpico do Brasil e do Ministério dos Esportes. Sem o Bolsa Atleta, eu não teria condições de treinar. E trabalho nos finais de semana, dando aulas de patinação, para complementar o custo dos treinos.
Esporte de Fato - Com que frequência costuma ir ao Brasil?
Isadora Williams – Quando sou convidada pelos empresários do show “Patinação nas Estrelas”, vou uma vez por ano. Devido a intensidade dos treinos, não vou tanto quanto gostaria de ir. A família da minha mãe é mineira. Tenho tios, tias, primas e primos em Belo Horizonte, uma família enorme. Mas também não os visito com a frequência que gostaria. Em casa, falo inglês, português, “portuinglês” e “mineirês”. Eu adoro o Brasil! A cultura brasileira e a alegria do brasileiro simplesmente me fascinam!