16 de setembro de 2016 - por Luiz Humberto Monteiro Pereira jogoscariocas@gmail.com
Nas Olimpíadas e Paraolimpíadas do Rio de Janeiro, resultados deixam para trás as previsões negativas
Poucos eventos esportivos mundiais estrearam tão desacreditados internamente quanto os Jogos Olímpicos e Paraolímpicos do Rio de Janeiro. Muitos diziam que as instalações esportivas não ficariam prontas a tempo e que submeteriam o Brasil a um vexame internacional. Outros acreditavam que grupos terroristas se infiltrariam no país e cometeriam atentados brutais com milhares de vítimas. Ainda havia alertas de que a infraestrutura de transportes e hotelaria era deficiente e a situação se tornaria caótica. Ou que a “epidemia de zika” era uma ameaça à saúde pública mundial que pairava sobre o evento. Tal onda de descrédito acabou refletido pela imprensa internacional, que muitas vezes não se dava ao trabalho de apurar as informações e se limitava a reproduzir – ou até ampliar – as manchetes negativas da mídia local.
Para os que aguardavam ansiosamente as notícias negativas dos Jogos brasileiros, o sentimento de frustração e a “ressaca moral” se tornaram indisfarçáveis. Apesar da expectativas, as coisas resolveram funcionar. Desde a cerimônia de abertura dos Jogos Olímpicos, o evento já deixou claro que poderia surpreender positivamente o mundo. Sem ostentação tecnológica, mas esbanjando bom gosto e musicalidade, o show de abertura valorizou um aspecto que há tempos andava esquecido nos eventos do gênero – a emoção. E foi elogiado de forme unânime na imprensa internacional.
O aspecto mais presente nas previsões alarmistas – a segurança pública – também não rendeu as esperadas manchetes trágicas. Durante as Olimpíadas – com um policiamento bastante reforçado por tropas do Exército –, o Rio de Janeiro apresentou índices de violência compatíveis e até inferiores a muitas grandes cidades internacionais. No Rio, episódios de violência envolvendo turistas foram registrados, mas nada muito diferente dos ocorridos nas Olimpíadas anteriores. E a grande manchete policial do evento ficou por conta do episódio envolvendo o nadador norte-americano Ryan Lochte, que “inventou” um assalto para tentar disfarçar um episódio de vandalismo que protagonizou com alguns colegas igualmente bêbados em um posto de gasolina carioca. No caso, a vergonha de fato aconteceu, mas não ficou na conta dos brasileiros.
Depois do encerramento dos Jogos Olímpicos – outra cerimônia bastante elogiada – e às vésperas dos Jogos Paraolímpicos, anunciava-se que seriam um fracasso de público. Nova aposta equivocada dos “profetas do apocalipse olímpico”. Depois de mais uma cerimônia de abertura irrepreensível, as Paraolimpíadas do Rio de Janeiro registraram o segundo maior público da história dos eventos paralímpicos, com mais de 1,8 milhão de ingressos vendidos até agora – atrás apenas dos Jogos de Londres, em 2012. A nota destoante dos Jogos Rio 2016 ficou por conta do desprezo da imprensa local pelas Paraolimpíadas. Ao contrário da forte presença da mídia nas Olimpíadas, as raras transmissões ao vivo das competições paraolímpicas estiveram fora da programação das principais emissoras. Os noticiários televisivos também relegaram o evento a um segundo plano.
Em termos esportivos, as Olimpíadas do Rio também fizeram bonito. No total, 73 novas marcas mundiais e olímpicas foram estabelecidas. Brilharam os veteranos Usain Bolt e Michael Phelps, que encerraram no Rio de Janeiro suas brilhantes trajetórias olímpicas, e também novatos como a ginasta norte-americana Simone Biles, a nadadora alemã Britta Steffen e o nadador Joseph Schooling, de Singapura, que conseguiu a proeza de deixar Michael Phelps para trás e conquistar o ouro nos 100 metros borboleta.
O Brasil celebra o melhor desempenho olímpico de sua história, com 19 medalhas, sendo sete de ouro. Entre os ouros conquistados no Rio, alguns eram previsíveis, outros nem tanto. As velejadoras Martine Grael e Kahena Kunze, a dupla de vôlei de praia Alison Cerutti e Bruno Schmidt e a equipe de vôlei masculino reafirmarem a condição de favoritos. Já o futebol masculino reverteu a velha “escrita” e conquistou sua primeira medalha de ouro. Entre as boas surpresas, os ouros da judoca peso leve Rafaela Silva, do atleta paulista do salto com vara Tiago Braz e do boxeador baiano Robson Conceição. Destaque também para as duas medalhas de prata e uma de bronze trazidas pelo canoísta baiano Isaquias Queiroz – o primeiro brasileiro a trazer três medalhas numa só edição das Olimpíadas. Nos Jogos Paraolímpicos, que só se encerram no dia 18, a previsão é que também sejam menos recordes batidos do que nas edições anteriores. Até agora, o nadador paulista Daniel Dias vai se confirmando como o grande destaque paraolímpico nacional. Mas alguns novos nomes surgem no atletismo, como o velocista paraibano Petrucio Ferreira, medalhista de ouro nos 200 metros rasos na categoria T47 aos 19 anos.
Além do estímulo ao desenvolvimento dos esportes olímpicos e paraolímpicos, que sempre acontece em qualquer país onde as Olimpíadas são realizadas, os Jogos do Rio ainda prometem render bastante. Os turistas estrangeiros que vieram ao Rio de Janeiro, apesar da propaganda negativa da mídia, ficaram surpreendidos com o que encontraram. A cidade foi “repaginada” para o evento e resgatou antigas áreas degradadas, como a zona portuária. A estrutura de transportes também evoluiu e foram criadas novas linhas de metrô, BRTs e VLT. Milhares de relatos na imprensa internacional e nas mídias sociais deram conta de que a maioria das pessoas que vieram ao Rio de Janeiro ficaram simplesmente encantadas com o que encontraram. Mais de 90% dos entrevistados declaram que adoraram a cidade e pretendem retornar ao Brasil para passar férias, trazendo a família, e conhecer o resto do país. A imagem do Brasil no mundo sofreu um “upgrade” graças aos Jogos do Rio – e esse talvez seja o principal legado deixado pelo evento.